MENU

Em pouco mais de duas semanas, Bolsonaro já deixou claro a que veio

Ministros acusados de corrupção e juiz de atuação política. Extinção dos ministérios do Trabalho e do Meio Ambiente e escolha da "musa do veneno" para a Agricultura. O novo governo mostra a que veio.

Publicado: 13 Novembro, 2018 - 14h33

Escrito por: Redação Confetam/CUT

.
notice
Bolsonaro e Onyx admitiram que será difícil aprovar mudanças na Previdência em 2018

Pode parecer pouco, mas duas semanas já foi tempo suficiente para deixar claro a que veio Jair Bolsonaro (PSL), deputado federal de ultradireita eleito o 38º presidente do Brasil, em 28 de outubro, com mais de 57 milhões de votos. Até a posse, marcada para 1º de janeiro de 2019, o fantasma da incerteza continuará rondando todas as previsões, a maioria delas nefastas, para os próximos quatro anos do governo Bolsonaro (2019/2022).   

Eleito com o discurso de "combate aos corruptos", Bolsonoro sinalizou claramente, logo nos dias posteriores à eleição, que não cumprirá sua principal promessa de campanha. O primeiro estelionato eleitoral do novo presidente ficou escancarado logo na escolha dos nomes da equipe do futuro governo, integrado por ministros denunciados ou condenados por corrupção, como Magno Malta (cogitado para cuidar dos "valores da família"), Paulo Guedes (Ministério da Economia) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil)

Acusados de corrupção integram novo governo

Lorenzoni foi citado na delação premiada da JBS como um dos receptores de caixa dois eleitoral, fato minimizado pelo superministro da "Justiça" de Bolsonaro, juiz Sérgio Moro. "Eu, na verdade, tenho uma grande admiração pelo deputado federal Onyx Lorenzoni. Quanto a esse 'episódio do passado', ele mesmo (Lorenzoni) admitiu os seus erros, pediu desculpas e tomou as 'providências' para repará-los", declarou o juiz federal de primeira instância que condenou sem provas e determinou a prisão do ex-presidente Lula. O objetivo do magistrado nunca foi combater a corrupção, mas tirar Lula da disputa presidencial de 2018, vencida por Bolsonaro. O novo chefe de Moro foi, portanto, o principal beneficiado pelo impedimento de Lula.  

Sobre as investigações contra Paulo Guedes, suspeito de fraudes em fundos de pensão, o superministro de Bolsonaro, mais uma vez, minorou o caso. "Não conheço as investigações (contra Paulo Guedes), o que está nelas, mas o que tenho de notícias é que são muito incipientes. Na atual fase, não é possível emitir qualquer juízo de valor", disse Sérgio Moro.

Fim do Ministério do Trabalho e dos direitos trabalhistas

A reforma ministerial anunciada por Bolsonaro também causa preocupação. Entre as propostas mais polêmicas está a extinção do Ministério do Trabalho, criado pelo presidente Getúlio Vargas, em 1930, para mediar as relações entre trabalhadores e patrões. 

Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, Bolsonaro pretende acabar os direitos que sobreviveram à Reforma Trabalhista de Michel Temer. "Ele (Bolsonaro) vai tirar todos os direitos que ainda sobraram, que não foram retirados pelo Temer", diz o presidente da CUT. "Isso (a extinção do MTE) significa que nós não vamos ter onde discutir valorização do salário mínimo, não vamos ter com quem discutir nesse governo novo a manutenção da sua aposentadoria, o seu FGTS, as suas férias. Significa que ele (Bolsonaro) vai fazer o que prometeu: acabar com a carteira assinada e todos os seus direitos", alerta Vagner Freitas 

"Musa do veneno" vai cuidar da Agricutura

Outra proposta absurda, que recebeu pesadas críticas de ambientalistas e até mesmo de aliados de Bolsonaro, foi a fusão dos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura. "Independentemente da fusão ou não, todas as declarações que o presidente vem fazendo, as implicações que isso traz pro Brasil e pro mundo, já sinalizam qual é a perspectiva desse governo: de não proteger os nossos índios, de não preservar os nossos ecossistemas, nossa biodiversidade, nossa fauna e nossa flora", critica a presidente da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam/CUT), Vilani Oliveira.

Entre os integrantes do novo governo que reagiram negativamente à proposta está a futura ministra da Agricultura e líder da bancada ruralista no Congresso Nacional, deputada Tereza Cristina, primeira mulher indicada para o ministério de Bolsonaro. Conhecida como "musa do veneno" pelo trabalho que desempenhou como presidente da Comissão Especial da Câmara que aprovou o PL do Agrotóxico (6299/02), em junho passado, ela disse que a integração das duas pastas causou “mal-estar lá fora”. 

Descaso com o meio ambiente

“Hoje existem muitas barreiras comerciais, que são protecionismos lá fora, que a gente precisa vencer. Este é um assunto que causou mal-estar lá fora. Então, de repente, para que fazer essa fusão, se a gente teria mais ônus do que bônus?”, afirmou Tereza Cristina. A repercussão negativa parece ter feito Bolsonaro recuar da ideia, mas o futuro do meio ambiente no Brasil continuará incerto.

Também causou "mal estar lá fora" a intenção do capitão reformado do Exército de transferir a embaixada brasileira de Israel de Tel Aviv para Jerusalém, sinalizando a pretensão do futuro presidente de reconhecer esta última como capital do país. A declaração de Bolsonaro desagradou os países árabes, levando o Egito, um dos grandes parceiros comerciais do Brasil, a cancelar visita do ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. "Essa coisa é muito séria. Mexe na perspectiva de um conflito mundial. Sinaliza pra cá o ódio, inclusive com a possibilidade de ataques", teme a presidente da Confetam/CUT, Vilani Oliveira.

Declaração de guerra a parceiros comerciais

Além do mundo árabe, a China também reagiu às declarações de Bolsonaro, que ensaia um alinhamento com os EUA de Donald Trump. Para isso, espinafra de uma forma irresponsável o maior país asiático, considerado o principal parceiro comercial do Brasil. 

Por meio do "China Daily", o governo Chinês mandou um claro recado a Bolsonaro. Segundo editorial do jornal estatal, as exportações brasileiras "não apenas ajudaram a alimentar o rápido crescimento da China. Mas também apoiaram o forte crescimento do Brasil". Criticar Pequim "pode servir para algum objetivo político específico". "Mas o custo econômico pode ser duro para a economia brasileira, que acaba de sair de sua pior recessão da história", alerta o texto.

Por falta de apoio, reforma da Previdênica fica para 2019

Mas o golpe de mestre preparado por Bolsonaro contra trabalhadores e aposentados, inclusive os que votaram nele, é o compromisso público de dar continuidade a votação da reforma da Previdência de Michel Temer. A estratégia seria aprovar matérias por meio de projetos de lei (PL), que precisam de quórum inferior às propostas de emenda constitucional (PEC). 

Dobrar a contribuição dos servidores públicos, estabelecida hoje em 11%, estaria entre os pontos da reforma previdenciária que poderiam ser votados ainda neste ano com o apoio de Bolsonaro. "Gostaríamos que saísse alguma coisa e não é o que nós queremos ou o que a equipe econômica quer. É aquilo que a gente pode aprovar na Câmara e no Senado", afirmou Bolsonaro. O texto da reforma foi aprovado em comissão especial na Câmara dos Deputados, mas não pode ser votado em Plenário por falta de apoio. Pelo mesmo motivo, nesta segunda-feira (12) Bolsonaro recuou e admitiu que a reforma ficará para 2019, seu primeiro ano de governo. 

Unidade para resistir ao governo fascista

"O governo Bolsonaro terá um impacto ainda maior que os estragos causados por Temer à classe trabalhadora. Precisamos estar conscientes sobre o que ainda está por vir e preparados para os enfrentamentos com os prefeitos na Campanha Salarial Nacional Unificada 2019 dos Servidores Públicos Municipais, a primeira dos próximos quatro anos do governo fascista. O importante é estarmos cada vez mais unificados, juntos nessa luta que está só começando", enfatiza a presidente da Confetam/CUT, Vilani Oliveira.