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Ex-jogador francês cobra prioridade na questão do racismo no futebol

Ex-jogador de futebol, o francês Lilian Thuram conversou sobre racismo no futebol com jornalistas na noite desta terça-feira (10), em Brasília.

Publicado: 16 Junho, 2014 - 00h00

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Thuram questionou a efetividade das medidas tomadas por entidades ligadas ao futebol, como a Federação Internacional de Futebol (Fifa) e a União das Federações Europeias de Futebol (Uefa).
“A Fifa e a Uefa fazem um trabalho de conscientização, mas os gestos dos racistas continuam. E se o futebol não encontrou a solução, temos que perceber que é culpa nossa, de jogadores, jornalistas, Fifa, Uefa. Todos os atores do mundo do futebol devem se sentir responsáveis”, disse Thuram. “Cada um de nós é portador da história do mundo. Por isso, é importante não reproduzir esses mesmos erros. Talvez o meio do futebol não tenha encontrado a solução porque ela não é tratada como prioridade”, completou.
Ex-jogador da seleção francesa e campeão do mundo em 1998, Thuram tem uma fundação com seu nome para tratar das causas e soluções do racismo. Nessa visita, porém, ele lançou o livro As Minhas Estrelas Negras. A obra defende a ideia de que o fim do racismo depende de uma mudança profunda na forma de pensar da sociedade que, muitas vezes, reproduz o racismo sem perceber.
“A ideia do livro é como alguns homens e mulheres fizeram para pensar diferente. E você só pode pensar diferente se pessoas te apresentarem formas de pensar diferentes. [O livro] é uma reflexão da sociedade na qual vivemos. Estamos condicionados a pensar o que pensamos e muitas vezes não nos damos conta que nossa cultura nos condiciona a sermos racistas, homofóbicos e sexistas”, ressaltou.
O francês disse já ter sofrido racismo quando jogava na Itália. “A torcida fazia gestos de macaco quando eu entrava em campo”, contou. Ele, no entanto, explicou que estava “consciente” dos motivos daqueles gestos e reforçou a importância de mudar a mentalidade da sociedade. “Por isso, eu digo que temos que educar bem as crianças para contradizer os mecanismos do racismo. Esse mecanismo se baseia sempre na mesma coisa, em deixar as pessoas em situação de inferioridade. As pessoas não são estúpidas, são fruto de uma sociedade, de uma cultura”, acrescentou.
Thuram também comentou o episódio envolvendo o jogador brasileiro Daniel Alves, que comeu uma banana atirada por um torcedor durante uma partida na Espanha. Para ele, a questão central não é a atitude do jogador hostilizado e sim do árbitro e dos próprios companheiros em campo. “Acredito que, nessa situação, não é o gesto do Daniel o mais importante; e sim que o juiz não fez nada, nem os jogadores do Barcelona, nem os adversários. Frequentemente, o que acontece é a cegueira das pessoas, e essa hipocrisia ocorre também na nossa sociedade. As pessoas não querem reconhecer que o racismo existe”.
Às vésperas da Copa do Mundo, o futebol teve, inevitavelmente, espaço na conversa. Thuram disse que a Espanha e o Brasil são os principais favoritos ao título. A primeira, por ter vários jogadores experientes e campeões recentes em seus clubes, e o Brasil por jogar em casa. Ele disse torcer, no entanto, por outra final. “Espero que a França chegue à final contra o Brasil e ganhe de 1x0 aos 48 minutos do segundo tempo”, disse, sorrindo.
Não seria a primeira vez que o Brasil cairia diante dos franceses em uma Copa do Mundo. Presente na final contra o Brasil, em 1998, Thuram lembrou do episódio envolvendo o atacante brasileiro Ronaldo, que sofrera uma convulsão horas antes da partida. “De fato, ouvimos conversas de corredor sobre o assunto na final, mas achamos que poderia ser algo criado para nos desestabilizar. E quando o vimos em campo, achamos que era isso mesmo. Mas depois, soubemos que ele realmente teve uma convulsão”.
Simpático, o ex-zagueiro da França exaltou as qualidades do atacante brasileiro e seu poder de decisão. “Talvez, se o Ronaldo estivesse 100%, não teríamos ganho o Mundial. Mas isso nunca vamos saber”, disse com ares de alívio, provocando risos nos presentes.
Fonte: CUT Nacional