Escrito por: Luiz Carvalho/CUT Brasil

Greve completa um mês com 90% dos servidores de Florianópolis de braços cruzados

Trabalhadores cobram revogação do pacotaço do prefeito Gean Loureiro como condição para encerrar paralisação

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Em greve desde o dia 16 de janeiro, servidores municipais exigem negociação

Os servidores municipais de Florianópolis (SC) completam um mês de paralisação nesta sexta-feira (17) e a luta contra o pacote do prefeito Gean Loureiro (PMDB) continua a crescer com cerca de 90% dos trabalhadores de braços cruzados.

De maneira arbitrária, Loureiro enviou à Câmara de Vereadores quase 40 projetos de lei que incluem o retrocesso no plano de cargos, carreiras e salários (PCCS) dos servidores, a fusão dos fundos da Previdência e o corte no anuênio e licença-prêmio. Enquanto isso, os empresários foram beneficiados com o parcelamento da dívida junto à prefeitura.

Em negociação no último final de semana, o Sintrasem  (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis) reafirmou que não aceita os termos apresentados pelo prefeito.

“O governo chamou para dizer que poderíamos escolher qual direito perderíamos e isso não aceitamos. O que nós cobramos foi a revogação dos projetos de lei e a abertura da discussão ponto a ponto das propostas”, disse o presidente da entidade, Alex Santos.

Com acesso a dados econômicos do município, a categoria conseguiu demonstrar que, na prática, a proposta do prefeito é meramente ideológica, já que a maioria das medidas adotadas não teria impacto relevante imediato na economia da prefeitura.

Entre os pontos, o Sintrasem comprovou que a maior parte das gratificações que os servidores levariam para a aposentadoria já foram custeadas e, portanto, não representariam impacto futuro.

Daquelas que ainda dependem da contribuição do Estado e dos trabalhadores, 90% estarão em vigor apenas daqui cinco anos, o que desmente a ideia pregada pelo governo de que haveria economia imediata para as contas do município.

Além disso, 95% das gratificações são transitórias, inerentes cargo e função, e o trabalhador só recebe se estiver na área. Por exemplo, quem atua na regência de classe apenas tem direito à gratificação se der aula, a conquista não é automática para o servidor.

O sindicato afirma ainda que a diminuição referente ao corte em horas extras, adicional noturno, anuênio e triênio, único ponto em que há impacto imediato, reduziria as contas em R$ 1 milhão e não em R$ 10 milhões como alega o governo.

Santos alerta a categoria que a greve é um direito legal e que o sindicato manterá o trabalho de base para combater a pressão psicológica da gestão Loureiro, mais interessada em criminalizar o movimento do que em negociar.

Vitória na Justiça

No dia 8 de fevereiro, o procurador-geral do Poder Executivo, Diogo Pítsica acatou o pedido do governo e pediu a prisão dos dirigentes do Sintrasem.

Além disso, determinou a destituição da diretoria e a intervenção na entidade que representa 10 mil trabalhadores, um desrespeito à Constituição Federal e à Lei nº 7.783, de 1989, responsáveis por garantir o direito à greve.

A solicitação foi negada pela desembargadora do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Vera Lúcia Copetti, que fez a prefeitura recuar da ação. Uma campanha internacional com mais de 500 moções de centrais sindicais e sindicatos do mundo todo também pressionou a magistrada a repudiar a medida.

O presidente do Sintrasem lembra também que o sindicato apresentou um projeto de lei para restabelecer os direitos dos trabalhadores e otimizar os recursos financeiros da prefeitura.

“A categoria está radicalizada e não vamos encerrar a greve enquanto o governo não quiser negociar ponto a ponto cada um dos itens”, afirma Alex Santos.

Nesta quinta-feira (16), os servidores de Florianópolis voltam às ruas, a partir das 13h30, na Praça Tancredo Neves, tradicional espaço de lutas dos servidores catarinenses. A expectativa é reunir, além das categorias em greve, outros sindicatos solidários à causa.