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Guaranis, CUT e movimentos sociais fazem protesto contra desaparecimento da água em São Paulo

Nem ‘dança da chuva’ faz milagre contra descaso da falta dágua causada pelo PSDB em São Paulo

Publicado: 24 Outubro, 2014 - 00h00

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Guaranis Mbyá e movimentos sindical e social ocuparam a Praça da Sé nesta terça-feira (21) e transformaram o espaço público em Opy, casa de reza na língua indígena. Com bom humor, a ‘dança da chuva’ dos desinformados cumpriu o seu papel de rezar pelo estado de São Paulo e cobrar o governador Geraldo Alckmin (PSDB) pela crise do abastecimento de água que afeta 15,6 milhões de pessoas, de acordo com pesquisa do Instituto Ibope.
Representante da aldeia Tenondé Porã, Edvaldo Tupã Mirim, convidou as crianças e os jovens para se aproximar para participar ou ver a dança tradicional, feita no centro da praça, rodeada de gente. “Yy enreyre mandajaikoim”, disse, ao explicar que “sem água não há vida”. Como rezador que é, afirmou que os juruás (não indígenas) não cuidam o suficiente da terra e que o fim da água significa o fim da população.
No ato, Tupã Mirim lembrou também que o governo do PSDB de São Paulo não colabora com a regularização das terras tradicionais, pois cria parques onde poderia ser terra demarcada pelo governo federal. “A água é bem sagrado na terra. E, enquanto a gente existir na terra, a luta não vai acabar”, garante.
Segundo o Ibope, 38% dos eleitores do estado dizem sofrer com o corte de água em suas casas. Nos municípios da Grande São Paulo, este índice equivale a 55%. Mas a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), que opera o Sistema Cantareira, nega.
Diversidade no centro
E no mundo dos juruás à espera da dança dos Guaranis Mbyá, os carrilhões da Catedral da Sé soaram pela primeira vez às cinco da tarde, talvez por não estarem acertados com o horário de verão. Militantes da CUT, MST, MAB, movimentos de moradia, Levante Popular da Juventude, entre outros, falavam à população que circulava pela Sé. Comunicadores do Fora do Eixo e da Mídia Ninja registravam tudo.
Um ator profissional, representando São Pedro, o patrono das chuvas, compareceu ao ato e garantiu: “A culpa não é minha”. Com humor, disse aos manifestantes que São Judas Tadeu, cuidador das causas impossíveis, já havia sido procurado pelo candidato do PSDB à Presidência, que pediu para não ser derrotado nestas eleições. “Mesmo quando estamos todos muito ocupados, fazemos o que for preciso para ajudar. Mas São Judas já disse que não vai atender ao pedido do candidato”, brincou.
O dirigente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas do Estado de São Paulo, Gentil Freitas, afirmou que a causa principal da falta d’água na região é o fato de o governo do PSDB ter vendido parte das ações da Sabesp para a iniciativa privada, que prioriza o lucro em detrimento do atendimento à população. O governo tem 50,26% das ações, enquanto empresas privadas têm 49,74% delas.
“Por causa disso”, afirmou Gentil, cuja federação representa trabalhadores de empresas como a Sabesp, “entre 2003 e 2013 essa empresa distribuiu mais de R$ 4 bilhões aos acionistas privados, dinheiro que poderia ter sido investido em obras para modernizar o Sistema Cantareira, que hoje está praticamente vazio”.
É fato que as chuvas não vêm caindo do céu, mas os lucros em ascensão, os quais não são investidos em obras para melhor captação e distribuição das águas, são os maiores vilões. “Até a ONU afirmou em relatório que a responsabilidade pela falta de água é do governo do PSDB”, completou Gentil.
Seca à paulista
Em Campinas, a situação não é diferente. A Sanasa, empresa de economia mista que abastece a água da região, divulgou nota explicando que o racionamento afetaria 380 mil moradores nessa segunda (20).
Dirigente sindical do Sinergia-CUT, Mario Macedo Netto mora em Campinas e garante que bairros como a Vila Mimosa já sofrem com o corte. “Sabemos que além das residências, o comércio também tem sido afetado. No Jardim do Trevo, onde há indústrias, o racionamento tem atrapalhado”.
A secretária-geral adjunta da CUT Nacional, Maria Aparecida de Godoy Faria, completou que a falta de água provocará estagnação da produção, mas deve atingir de forma pior a área da saúde, que envolve a prestação de serviços humanitários.
Na semana passada, a Rede Record apresentou reportagem sobre a falta de água em um hospital na zona sul da capital. As cirurgias tiveram que ser atrasadas por dois dias. O Sistema Cantareira, que abastece nove milhões de pessoas na grande São Paulo, chegou a 3,6% da capacidade de armazenamento de água no domingo (19).
Periferia sabe
Adi dos Santos Lima, presidente da CUT São Paulo, disse que o que o governo tucano paulista esconde da população a crise. “Até passar o primeiro turno, o governador Alckmin dizia que não havia falta de água. Mas as pessoas na periferia da cidade sabiam que sim, pois na casa delas a torneira estava seca, dependendo da hora do dia. Agora, o PSDB está fazendo de tudo para segurar as últimas gotas da Cantareira, esperando o segundo turno das eleições presidenciais passar”, afirmou.
Pessoas que passavam pela Praça da Sé já testemunhavam que a água virou artigo de luxo. Fábio Luiz, morador de Piracicaba que está há uma semana hospedado na casa de amigos, contou: “Ontem não tomei banho, não havia água o dia inteiro”. Fábio está por esses dias em Santa Cecília, bairro central da cidade.
O pernambucano José Alves está de férias em São Paulo e passa pela mesma situação. “Vim para descansar, mas tive que me adequar ao racionamento tucano daqui. Volto para Recife e não tenho dúvida pela permanência da presidenta até porque não sou ignorante”.
Parte do problema quem explica é João Vianney, que trabalha na Sabesp como químico e participava do ato político na Sé. “A última obra de grande porte realizada na Cantareira foi no final da década de 1970, logo depois que ela foi construída”, relembra. “Faz mais de 20 anos que 36% da água que é distribuída pela Sabesp é desperdiçada em vazamentos subterrâneos ou na superfície. O governo sempre foi alertado sobre isso, mas nada fez para resolver o problema”.
Às seis da tarde, como deveria ser, os sinos da Catedral da Sé repicaram. No mesmo instante – realmente o mesmo – em que os Guaranis iniciaram a bem humorada ‘dança da chuva’. Mas nesta noite, de novo, não choveu.
Fonte: CUT Nacional