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Negacionismo de Bolsonaro ajudou a matar 4.500 trabalhadores da saúde

Levantamento inédito lançado no último dia 14 de outubro revela que morreram no Brasil mais de 4.500 profissionais da saúde pública e privada na primeira onda da pandemia.

Publicado: 18 Outubro, 2022 - 16h55

Escrito por: Thiago Marinho

Divulgação
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Levantamento inédito lançado no último dia 14 de outubro revela que morreram no Brasil mais de 4.500 profissionais da saúde pública e privada na primeira onda da pandemia, entre março de 2020 e dezembro de 2021. Foi o mesmo período em que o governo brasileiro negou a dimensão da doença e atrasou recursos. Grande parte dos profissionais não recebeu equipamentos básicos de proteção e a maioria não tinha sequer registros formais de trabalho. Oito a cada dez entre os que morreram salvando vidas na pandemia eram mulheres.

A pesquisa foi feita pelo estúdio de inteligência de dados Lagom Data e acompanha o lançamento no país do documentário interativo "Por Detrás da Máscara" (Behind The Mask), que denuncia a situação de quatro países nos momentos mais intensos da pandemia de Covid-19. Zimbábue, Paquistão e Tunísia foram os outros países escolhidos.

No episódio que se passa no Brasil, o segundo da série, a enfermeira Graciete Mouzinho, de Manaus, é a personagem central. Graciete, em meio ao caos da pandemia, coleta depoimentos de trabalhadorxs para construir um processo legal por cumplicidade contra o governo Bolsonaro.

Oito em cada dez entre os que morreram de Covid-19 salvando vidas eram mulheres, sendo que quase a metade, 47%, eram mulheres pretas e pardas; dois terços dos que morreram não tinham contratos formais de trabalho.

“Faltaram equipamentos de proteção, oxigênio, vacinas, medicamentos e sobraram mensagens falsas e desaforadas do presidente Bolsonaro sobre a Covid-19, chocando o mundo. E até hoje os profissionais da linha de frente seguem desvalorizados no Brasil”, afirma Rosa Pavanelli, secretária-geral da ISP.

Os profissionais e seus sindicatos não tinham a dimensão das mortes até agora. Os dados, compilados pelo jornalista Marcelo Soares, da Lagom Data, a partir de microdados do próprio governo brasileiro, revelam que as mortes se avolumaram mais rapidamente do que o observado na população geral, especialmente nos meses em que faltaram equipamentos de proteção individual (EPIs).

E que o impacto da doença foi maior nas ocupações com menores salários e mais próximas à linha de frente: auxiliares e técnicos de enfermagem (70%) morreram proporcionalmente mais do que enfermeiros (25%), e estes proporcionalmentemais do que os médicos (5%).

Para se ter uma ideia, foram 1.184 enfermeiros mortos, o que pode ter impactado diretamente o atendimento de 21.300 pacientes. Pelas regras do Cofen (Conselho Federal de Enfermagem), cada enfermeiro atende até 18 pacientes e cada atendente, 9 doentes. Em Manaus, por exemplo, cada enfermeiro atendeu 40 pacientes com o auxílio de dois atendentes.

Além disso, o estudo revela que oito em cada dez entre os que morreram salvando vidas eram mulheres, sendo que quase a metade, 47%, eram mulheres pretas e pardas, que normalmente estão mais presentes nas atividades menos bem remuneradas. E que dois terços desses profissionais muito provavelmente não tinham contrato formal de trabalho, segundo cruzamento entre os dados do Ministério da Saúde e informações sobre desligamentos por morte no Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).