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Trabalhadoras na linha de frente contra o coronavírus estão passando por sofrimento psíquico

Problema é relatado por 56% das mulheres, enquanto entre os homens o índice é de 44%. Levantamento integra a campanha “Trabalhadoras e Trabalhadores Protegidos Salvam Vidas”

Publicado: 11 Maio, 2020 - 11h14

Escrito por: Confetam

Reprodução da Internet
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Um questionário respondido voluntariamente de 27 de março a 29 de abril por 2.575 trabalhadoras e trabalhadores de serviços essenciais que estão na linha de frente de resposta à pandemia de coronavírus revela que 56% das profissionais mulheres estão passando por sofrimento psíquico. Entre os homens, o índice é de 44%. As mulheres, aliás, são 73% dos que responderam à enquete – 83% do total dos respondentes são profissionais da saúde, 51% são de profissões da área de Enfermagem e 61% são servidores públicos.

Esses dados fazem parte de um levantamento que integra a campanha “Trabalhadoras e Trabalhadores Protegidos Salvam Vidas”, lançada em 31 de março pela Internacional de Serviços Públicos (ISP) e suas filiadas no Brasil, cujo objetivo é usar as informações sobre condições de trabalho coletadas para pressionar gestores públicos e empregadores privados a melhorá-las. A coleta das respostas é feita por meio de um questionário online – a identificação não é obrigatória. 

Inspirada na campanha global de mesmo nome da ISP – federação sindical internacional que representa 30 milhões de trabalhadoras e trabalhadores públicos em 154 países –, a iniciativa é impulsionada pelo escritório da organização no Brasil e diversas entidades sindicais filiadas no país.

“O sofrimento psíquico de trabalhadoras e trabalhadores de serviços essenciais em um momento de pandemia é uma situação que provavelmente está relacionada, entre outros fatores, à falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) suficientes e à ausência de treinamento adequado para enfrentar o surto. Mas essa diferença entre os porcentuais de mulheres e homens não surpreende e nos dá margem para analisar essa questão a partir das desigualdades de gênero: dupla – ou tripla- jornada de trabalho feminina, maior precarização das relações de trabalho, falta de compartilhamento das tarefas domésticas, mulheres como chefas de família e maiores reponsabilidades, e pressão, assédio moral e/ou sexual. As profissionais mulheres são as mais afetadas pelo coronavírus, seja fisicamente – por serem maioria no setor de saúde, por exemplo –, seja psicologicamente, por essas questões que citei”, afirma Denise Motta Dau, secretária sub-regional da ISP para o Brasil. 

O levantamento mostra que as condições de trabalho e proteção das trabalhadoras e trabalhadores não têm melhorado em relação às primeiras parciais divulgadas: 65% dos respondentes continuam afirmando que não há EPIs suficientes no local de trabalho para a devida troca e higienização, enquanto 69% dos profissionais da saúde informam que não tiveram treinamento adequado sobre os protocolos de atendimento à população assim como de uso dos equipamentos.

Outros dados que chamam a atenção são o de que um terço dos profissionais (35%) tem tido jornadas de 12 horas ou mais nas últimas semanas e 21% têm utilizado transporte público para ir ao trabalho – ou seja, correm risco de contaminação também no deslocamento. Além disso, em 93% dos casos, não está sendo oferecida hospedagem para trabalhadores que não podem retornar a suas casas para não contagiarem familiares que sejam dos grupos de risco.