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Trabalhadores da saúde na América Latina permanecem desprotegidos

A realidade enfrentada é escassez de equipamentos de proteção individual (EPI) e kits de teste para o coronavírus, além da falta de orientação e treinamento profissional para lidar com esta doença

Publicado: 17 Abril, 2020 - 09h27

Escrito por: ISP - Tradução: Rafael Mesquita

ISP
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Esse cenário foi relatado pelos dirigentes sindicais das afiliadas à International de Serviços Públicos (ISP) durante uma reunião virtual realizada em 7 de abril. Uma primeira reunião foi realizada em 24 de março. A ISP está organizando reuniões desse tipo no contexto da pandemia para diferentes setores: por enquanto, além da saúde, houve também reuniões para os serviços municipais e regionais , setores de água e saneamento e trabalhadores do Judiciário.

A exemplo da chamada virtual anterior, a secretária geral do ISP, Rosa Pavanelli, participou da segunda reunião, ocasião em que afirmou que a preocupação com os profissionais de saúde, bem como o problema da escassez de elementos de proteção, é um problema central nos debates da maioria dos países.

Por outro lado, ela disse que na Europa existem sinais contraditórios sobre como continuar enfrentando a pandemia. “Por um lado, há a preocupação de muitos com a necessidade de manter as atividades fechadas, com muito cuidado na avaliação da progressão do vírus. Mas, ao mesmo tempo, os governos estão começando a ser pressionados pelos empregadores, que desejam retornar a uma situação de vida normal. O que não será possível, acredita, por muitos meses.

Pavanelli também destacou a posição da ISP sobre as medidas econômicas que devem ser tomadas para mitigar os efeitos da pandemia. “É preciso haver investimentos para apoiar trabalhadores, pequenas empresas e a economia local, sem a qual é impossível pensar em uma retomada da atividade econômica. As questões de proteção dos trabalhadores e defesa do sistema público de saúde não podem ser separadas da questão de como repensaremos a economia no futuro após o Covid-19 ”, concluiu.

AMÉRICA LATINA

No caso da região da América Latina, os relatos dos representantes das entidades filiadas sobre a escassez de equipamentos de proteção individual e kits de teste profissional foram amplamente colocadas. Em alguns países, aqueles que denunciam tais situações são demitidos ou perseguidos. A precariedade geral dos sistemas de saúde, agravada pelos cortes orçamentários e de pessoal nos últimos anos, também foi apontada como um fator que impede uma resposta adequada ao surto de coronavírus.

Gabriela Flores, presidente da Confederação Nacional dos Funcionários da Saúde Municipal (CONFUSAM), do Chile, denunciou que em seu país os equipamentos de proteção, além de escassos, não podem ser utilizados sempre que necessário. "O governo prepara instruções tentando restringir o uso de EPIs".

Maria Fernanda Boriotti, presidente da Federação dos Sindicatos dos Profissionais de Saúde da República Argentina (FESPROSA), disse que os governos nacionais e provinciais da Argentina estão sendo solicitados a que os trabalhadores façam testes para o Covid-19 assim que apresentem alguns sintomas mínimos. Da mesma forma, ela destacou a campanha de sua organização sindical para que o Covid-19 fosse reconhecido como uma doença ocupacional, uma reivindicação feita em 13 de abril .

Além da falta de proteção e do horário de trabalho exaustivo, que causaram danos psíquicos, os profissionais de saúde precisam enfrentar, em alguns casos, propostas para reduzir os salários e reformar o Estado (que implicaria em corte de pessoal e de salérios), conforme relataram, respectivamente, María Esther Fernández, da Associação Nacional de Profissionais de Enfermagem (ANPE), da Costa Rica, e Raúl Barreto Negrete, do Sindicato dos Trabalhadores do Ministério da Saúde Pública e Bem-Estar Social do Paraguai (SITRAMIS)

BOAS PRÁTICAS

Os participantes da reunião virtual também compartilharam algumas "boas práticas" adotadas pelas organizações sindicais para pressionar os governos a tomarem medidas adequadas para proteger os trabalhadores e o bem-estar dos pacientes doentes com Covid-19.

Luba Melo, diretora do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (SINDSEP), explicou que sua organização é membro de um comitê técnico de saúde da prefeitura de São Paulo, onde, uma vez por semana, faz denúncias sobre a situação da cidade - hospitais e unidades básicas de saúde. No nível nacional, os cidadãos e profissionais brasileiros na primeira linha de resposta ao coronavírus precisam enfrentar, além do próprio vírus, a posição do presidente Jair Bolsonaro, que continua a criticar as medidas de distanciamento social defendidas pelo Ministério da Saúde e governadores, e subestimando a severidade da pandemia.

María Esther Fernández também destacou que as queixas dos profissionais de saúde recebidas pelo sindicato são transmitidas diretamente às autoridades do governo da Costa Rica. No entanto, Maria Fernanda Boriotti, da FESPROSA, da Argentina, disse que os comitês de crise formados naquele país não têm representações dos trabalhadores. "Estamos propondo a participação, mas sem resultados positivos nesse sentido".

No Chile, CONFUSAM e FENPRUSS realizam e publicam um cadastro diário de profissionais afetados pelo Covid-19. Os dados estão servindo para questionar os números oficiais e pressionar o governo a tomar as medidas necessárias.

Outra abordagem das organizações sindicais, que também é feita globalmente através da sede mundial da ISP, é a reconversão industrial para a produção de equipamentos de proteção e suprimentos médicos. Boriotti afirmou que a FESPROSA instou o governo nacional da Argentina, através do Ministério da Saúde, "a assumir uma posição firme de intervenção nas empresas têxteis" a esse respeito. Por sua vez, Luba Melo, do SINDSEP, do Brasil, disse que o sindicato estabeleceu um diálogo com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) daquele país para pressionar pelas indústrias metalúrgicas e químicas para que reconvertam sua produção.