Escrito por: Nathan Gomes

Barreiras no Sistema de Saúde dificultam acesso das mulheres negras a cuidados

A saúde da mulher negra no Brasil enfrenta desafios específicos que muitas vezes não são devidamente abordados pelo sistema de saúde. Questões relacionadas a doenças crônicas, saúde mental e acesso a serviços de saúde de qualidade impactam de maneira desproporcional essa população, o que revela uma grande lacuna no atendimento e nas políticas públicas.

Uma das principais questões é a maior incidência de doenças crônicas entre as mulheres negras. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, mulheres negras apresentam uma prevalência de hipertensão arterial de 29,7%, enquanto entre mulheres brancas esse índice é de 25,4%. A diabetes também é mais frequente, com 9,7% das mulheres negras afetadas, em comparação a 7,2% das mulheres brancas. Essas condições exigem acompanhamento médico constante e acesso a medicamentos, mas muitas vezes essas mulheres enfrentam barreiras para conseguir esse atendimento contínuo, agravado com a falta de médicos em regiões periféricas e a dificuldade de acesso a exames onde a maioria da população negra reside.

A saúde mental também é uma área crítica. Dados do Ministério da Saúde indicam que mulheres negras estão mais expostas a situações de violência, discriminação e racismo, fatores que contribuem para a prevalência de depressão e ansiedade. Segundo a PNS de 2019, 10,4% das mulheres negras relataram diagnóstico de depressão, comparado a 15,2% das mulheres brancas. No entanto, a oferta de serviços de saúde mental, como terapia e atendimento psicológico, ainda é insuficiente e, muitas vezes, inacessível para essa população. Além disso, o estigma em torno da busca por ajuda profissional e a falta de profissionais de saúde que entendam as especificidades culturais e sociais das mulheres negras agravam o problema.

O acesso ao atendimento pré-natal de qualidade é outro ponto de preocupação. De acordo com o Ministério da Saúde, a mortalidade materna entre mulheres negras é 65% maior do que entre mulheres brancas. Falhas no acompanhamento da gestação e no atendimento durante o parto são fatores que contribuem para esse cenário. A ausência de políticas públicas direcionadas para melhorar a assistência obstétrica e a formação de profissionais de saúde para lidar com a diversidade é uma lacuna que precisa ser urgentemente preenchida.

A desigualdade no acesso a exames preventivos, como mamografias e Papanicolau, resulta em diagnósticos tardios de câncer de mama e colo do útero, o que reduz as chances de cura e aumenta a mortalidade. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), mulheres negras têm uma taxa de mortalidade por câncer de colo do útero de 8,3 por 100.000, comparada a 5,6 por 100.000 entre mulheres brancas. A falta de campanhas de conscientização direcionadas especificamente para a população negra e a pouca representatividade nos materiais educativos sobre saúde agravam essa situação.

Apesar desses desafios, existem movimentos e iniciativas buscando mudar essa realidade. Organizações da sociedade civil e movimentos negros têm pressionado por políticas públicas mais inclusivas e pela formação de profissionais de saúde mais sensíveis às questões raciais. Programas de saúde da família que incluem visitas domiciliares e a ampliação do SUS em comunidades carentes são passos importantes, mas ainda insuficientes.

A implementação de políticas públicas que considerem as especificidades da saúde da mulher negra é fundamental para diminuir as desigualdades. Isso inclui desde a formação de profissionais de saúde capacitados para lidar com as questões raciais até a criação de programas de prevenção e tratamento que sejam culturalmente competentes e acessíveis.