Escrito por: Confetam

Confetam adere ao FNDC e cria coletivo de comunicação para fortalecer resistência ao golpe

Em seminário nacional, entidade adota iniciativas concretas de resistência ao golpe midiático e de fortalecimento da luta pela democratização das comunicações

Rafael Mesquita
Dirigentes dos municipais de 16 estados participaram do seminário

"A democracia não foi completada no Brasil porque os meios de comunicação continuam dominados por oligopólios". A fala do secretário nacional de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Roni Barbosa, abriu o Seminário Nacional Pare, pense e resista - A democratização das comunicações e a resistência ao golpe, promovido nesta segunda-feira (12), em Brasília, pela Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal (Confetam/CUT).

Diretor executivo do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Roni apresentou o vídeo da Campanha Calar Jamais - contra Violações à Liberade de Expressão, e distribuiu a última edição da Revista Mídia Com Democracia, que destaca na capa matérias sobre a liberdade de expressão em tempos de golpe e o aniversário de 25 anos do FNDC, responsável pela publicação.

Ele denunciou a alta concentração dos meios de comunicação nas mãos de um pequeno grupo de famílias e defendeu a organização de uma rede de comunicação alternativa para lastrear a resistência dos trabalhadores aos ataques promovidos pelo governo ilegítimo de Michel Temer. "Pelas redes sociais temos chegado a mais pessoas que no golpe de 1964. Precisamos organizar a resistência com esses meios, mas também com veículos de comunicação de massa", defendeu.

Roni Barbosa destacou a Rede da CUT - que hoje conta com site, rádio e TV web, jornal, além da Revista do Brasil e redes sociais -, como instrumento de integração da luta da classe trabalhadora e defendeu  criação de um Conselho. "A ideia é formar um grupo de entidades para debater a comunicação e organizar a pauta nacional. Talvez este seja o nosso grande desafio".

Roni enfatizou que a organização da resistência deve ocorrer para além da internet e citou como exemplo iniciativa da CUT e das esquerdas de produzir um programa nacional de rádio para enfrentar redes como Band News e CBN. "Seria um programa de um hora, uma hora e meia, intercalado com inserções locais, para debater os grandes temas da sociedade com a população e os trabalhadores, e disputar a comunicação com as elites brasileiras. Seria nosso primeiro produto produzido em rede", explicou o dirigente da CUT, acrescentando que o conteúdo deverá ser distribuído com rádios comunitárias, comerciais, emissoras públicas e educativas, sem qualquer custo.

Cidadania e esfera pública

Maria José Braga, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), integrante do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional e fundadora do FNDC, afirmou que a democracia nas comunicações é tão estratégica que pela falta dela o Brasil sofreu um novo golpe de Estado num intervalo de 52 anos. "Tivemos dois golpes (1964 e 2017) consolidados pelos meios de comunicação justamente pela falta de democratização", afirmou.

A presidente da FENAJ pontuou que só há democracia quando o cidadão tem acesso à informação para interagir no debate democrático na esfera pública. "Os meios de comunicação têm a obrigação constitucional de dar voz a todos, de democratizar o acesso aos meios e de estabelecer mecanismos com os quais a sociedade possa opinar e fiscalizar o conteúdo veiculado", disse.

Ela assinalou que na constituição do modelo de comunicação brasileiro nunca houve a preocupação de se estabelecer essa esfera pública, já que o único interesse dos empresários do setor era estabelecer um negócio com grande potencial econômico. "Isso começou a mudar com a Lei do Cabo que possibilitou os canais legislativos e ganhou força com a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), a primeira oportunidade de construir uma rede pública (de comunicação)", afirma.

Mas a experiência também foi alvo dos ataques do governo golpista de Michel Temer, que baixou uma Medida Provisória (MP) para eliminar o caráter público da EBC, subordinar o presidente da empresa ao presidente da República e extinguir o Conselho Curador da EBC. "Não é implodir (o sistema de comunicação), é melhorar o que está aí. Mas para melhorar, figurativamente, precisamos de uma implosão (do atual modelo de comunicação)", afirmou a jornalista.

Ela desmistificou a ideia de que estabelecer regras mínimas para o setor seja tentativa de censura, como costumam acusar os veículos sempre que há alguma iniciativa de regulamentar as comunicações. "Ao contrário, regulamentar significa democratizar o acesso e o controle dos meios de comunicação. Fazer protestos na porta da Globo não basta. Temos de exigir a democratização e a regulamentação dos meios e do jornalismo", sentenciou.

A presidente da FENAJ se referiu à necessidade de criação do Conselho Federal de Jornalistas para punir profissionais antiéticos e proteger a sociedade dos maus jornalistas, e de uma nova Lei de Imprensa para regular a relação dos veículos de comunicação com a sociedade."Não sejamos ingênuos. A função do Estado é regular as relações sociais", concluiu Maria José.

Lançamento da Campanha Salarial 2017

Ao fim do Seminário de Comunicação, a presidente da Confetam/CUT, Vilani Oliveira, assinou o Termo de Adesão ao FNDC e convocou as 17 federações filiadas a também militarem na causa da democratização de comunicação. A entidade lançou ainda o Coletivo de Comunicação - mais uma iniciativa para fortalecer a rede de colaboração dos trabalhadores na produção e distribuição de conteúdos jornalísticos -, e a Campanha Salarial Nacional Unificada 2017 dos Servidores Públicos Municipais Brasileiros.