Escrito por: Alison Marques

Massacre no Rio: ISP cobra justiça e revisão da política de segurança pública

O Comitê Interamericano de Combate ao Racismo, à Xenofobia e a Todas as Formas Conexas de Discriminação, da Internacional de Serviços Públicos (ISP), divulgou nesta semana nota de repúdio aos atos de violência.

Tomaz Silva | Agência Brasil

O Comitê Interamericano de Combate ao Racismo, à Xenofobia e a Todas as Formas Conexas de Discriminação, da Internacional de Serviços Públicos (ISP), divulgou nesta semana nota de repúdio aos atos de violência ocorridos nas favelas do Rio de Janeiro em 29 de outubro de 2025. Segundo o documento, mais de cem pessoas foram mortas em uma operação policial marcada pelo uso desproporcional da força e pela chamada “lógica de guerra contra o próprio povo”.

Para o Comitê, o episódio não é isolado, mas sim uma expressão do racismo estrutural, da violência institucional e do desprezo histórico pela população negra, pobre e periférica no Brasil. A nota classifica o massacre como consequência de políticas públicas que militarizam territórios populares, criminalizam a pobreza e protegem privilégios de poucos enquanto negam direitos à maioria.

Confira a nota na íntegra:

Declaração do Comitê Interamericano de Combate ao Racismo, à Xenofobia e a Todas as Formas Conexas de Discriminação da ISP sobre os acontecimentos ocorridos durante uma operação policial no Rio de Janeiro, Brasil, em 29 de outubro de 2025

O Comitê Interamericano de Combate ao Racismo, à Xenofobia e a Todas as Formas Conexas de Discriminação da Internacional de Serviços Públicos (ISP) expressa sua mais enérgica condenação aos fatos violentos ocorridos nas favelas do Rio de Janeiro, Brasil, que deixaram mais de uma centena de pessoas assassinadas durante uma operação policial caracterizada pelo uso desproporcional da força e por uma lógica de guerra contra o próprio povo.

O que aconteceu no Rio não é um fato isolado: é a expressão mais brutal do racismo estrutural, da violência institucional e do desprezo histórico pela vida da população negra, pobre e periférica no Brasil. Esse massacre é o resultado direto de políticas de segurança pública que militarizam os territórios populares, criminalizam a pobreza e sustentam um sistema que protege os privilégios de poucos enquanto nega direitos e humanidade às maiorias.

Desde o Comitê, denunciamos que a violência estatal direcionada sistematicamente contra comunidades negras não pode ser justificada sob o pretexto da “luta contra o crime”. Trata-se de um ato de limpeza social e racial, reflexo de um modelo de Estado que continua enxergando pessoas afrodescendentes como ameaças, e não como cidadãos e cidadãs com direitos.

Exigimos ao Governo Federal e ao Estado do Rio de Janeiro:

  1. Uma investigação independente, imparcial e com controle civil e de organismos internacionais, que determine as responsabilidades políticas, institucionais e penais deste massacre.
  2. Justiça e reparação integral para as vítimas e suas famílias.
  3. Uma revisão profunda da política de segurança pública, substituindo o enfoque militarizado por estratégias baseadas em direitos humanos, inclusão social, redução das desigualdades e combate ao racismo estrutural.

Desde o Comitê, manifestamos nossa solidariedade às famílias afetadas por esses fatos terríveis e pedimos às organizações filiadas à ISP sua mobilização internacional para condenar o ocorrido e exigir justiça.

O que aconteceu no Rio de Janeiro, Brasil, interpela toda a comunidade internacional, pois não podemos aceitar que a pobreza e a discriminação racial sejam uma sentença de morte em nome da segurança.

Instamos os organismos internacionais — ONU, OEA, CIDH e o sistema de direitos humanos da União Africana — a se pronunciarem, pois a impunidade institucional alimenta a repetição dessas tragédias, que já não podem ser vistas como “excessos”, mas como política de Estado.

O Comitê reafirma seu compromisso com a luta dos povos e sua disposição em colaborar com Estados democráticos para garantir direitos. Reivindicamos uma segurança pública a serviço da vida, não do controle social; uma justiça que desmonte o racismo estrutural; e políticas públicas que coloquem no centro a dignidade humana, a equidade racial e a justiça social.

A violência e o derramamento de sangue nunca serão o caminho. A paz, a reintegração social e o respeito pleno aos direitos humanos, sem qualquer distinção, sempre serão a via. Nossas vozes continuarão denunciando, organizando e resistindo, combatendo a discriminação em nosso continente.

As vidas negras importam!
As vidas das favelas importam!

Atenciosamente,
Comitê Interamericano de Combate ao Racismo, à Xenofobia e a Todas as Formas Conexas de Discriminação da Internacional de Serviços Públicos