Escrito por: Luizianne Lins, deputada federal (PT/CE)
Em artigo, a deputada federal Luizianne Lins diz que, por trás do impeachment, há uma operação em curso para abafar as investigações da Lava Jato.
A tentativa de derrubada da presidente Dilma por uma massacrante campanha midiática e jurídica é mais um triste capítulo de nossa história, escrito por elites que nunca aceitaram governos compromissados com a justiça social. Apesar de previsto em nossa Constituição, o instituto do impeachment exige um crime de responsabilidade para ser motivado. Do contrário, torna-se instrumento para um obtuso golpe político.
A questão, entretanto, não se encerra com o golpe em si. E também não trata do suposto “combate à corrupção”, esse biombo moralista em que os que sangraram o País ao longo de 500 anos tentam esconder a própria desfaçatez. O impeachment, na verdade, tem duas outras motivações. A primeira é a tentativa de usurpação do poder por parte daqueles que, implicados em investigações diversas, querem abafar as acusações contra si - inclusive no âmbito da Lava Jato, que, apesar de sua caça visceral e seletiva ao PT, acabou por revelar malfeitos de tucanos e peemedebistas.
Alguém duvida que, tão logo Temer assuma a presidência, a Lava Jato não se transformará numa imensa “Abafa Jato”? É isso o que queremos? Um retorno à época dos “engavetadores-gerais da República”, marcada pela desídia e pelo amordaçamento das instituições a quem cumpria combater a corrupção? Nunca é demais lembrar que, recentemente, membros da própria “força-tarefa” da Lava Jato reconheceram os avanços conquistados, em termos de estrutura e de liberdade de atuação – tanto do MP quanto da Polícia Federal -, durante os governos petistas.
A outra motivação do golpe é a desconstrução de conquistas sociais. Não apenas no campo da sociabilidade – com retrocessos nos direitos LGBT, das juventudes, etc. Mas também em relação ao fim da obrigação constitucional com gastos mínimos em saúde e educação e à desregulamentação de direitos trabalhistas. Sem falar na entrega do pré-sal às petroleiras internacionais e tantas outras tenebrosas transações.
É preciso estarmos todo(a)s atento(a)s e fortes. O impeachment não é fim em si mesmo, é apenas o princípio de algo muito mais grave.
Fonte: jornal O Povo