Escrito por: Luiz Carvalho/CUT

PEC 241 vai levar salário, saúde e educação para o buraco

A CUT promove, nesta quarta-feira (05), o Dia Nacional de Luta contra o Desmonte do Estado

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Servidores municipais de todo o Brasil participarão da paralisação nacional

Cartão de visitas do governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB), a PEC 241 (Proposta de Emenda Constitucional) deve ser votada na próxima quinta-feira (06). Sob relatoria de Tarcísio Perondi (PMDB-RS), o texto estabelece o congelamento por 20 anos de gastos governamentais.

Nas próximas duas décadas, o investimento em políticas públicas teria como base a despesa do ano anterior corrigida pela inflação. Caso seja aprovada, ainda que a economia cresça, os governos federal, estaduais e municipais não poderão ampliar o investimento e desrespeitar o teto estabelecido pela emenda. Regras que afetam diretamente programas sociais como o Bolsa Família, políticas públicas para saúde e educação e até mesmo a política permanente de valorização do salário mínimo.

Nesta terça (4), houve a leitura de parecer e pedido de vistas. Como o prazo é de duas sessões, o tema deve voltar à pauta na quinta-feira. Em linhas gerais, o relatório transfere para 2018 a aplicação do teto para saúde e educação. Os demais setores também serão atingidos pela limitação.

Puxada de tapete nos trabalhadores

Para frear essa puxada de tapete nos direitos trabalhistas, a CUT promoverá nesta quarta-feira (05) o Dia Nacional de Luta contra o Desmonte do Estado. A ideia é mostrar ao país como a PEC 241 atinge o coração dos investimentos e políticas que beneficiam toda a população.

Secretário-adjunto de Relações do Trabalho da CUT Nacional, Pedro Armengol define a proposta como o motor do projeto de entrega dos serviços públicos ao setor privado, revestido de modernização arquitetada pelo presidente ilegítimo Michel Temer (PMDB) e pelos financiadores do golpe.

“Essa é a mãe de todas as reformas. Se aprovada a PEC 241, não precisa nem discutir outros itens como o PL 257 – que congela o aumento dos servidores públicos –, porque o Estado já estará desmontado, sem nenhuma perspectiva de atendimento social. A Constituição estabelece o mínimo que deve ser aplicado em políticas públicos de saúde, educação e essa obrigação cai por terra com a proposta”, definiu.

Para ter uma ideia do impacto das alterações, caso já estivessem em vigor, o governo federal teria investido 47% menos em educação do que investe atualmente (R$ 377 bilhões) e 26% a menos em saúde (R$ 300 bilhões), conforme estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Só o fim

Analista do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), Marcos Verlaine define a proposta como uma ferramenta para abrir às portas para a revogação de políticas de distribuição de renda, entre as quais, a política de valorização do mínimo.

“O salário mínimo é uma lei federal, vão abrir espaço para alterar essas e outras conquistas, o candidato Aécio Neves (PSDB-MG) já falava isso em 2014 na campanha. E o argumento será o cumprimento do teto de gastos, que implicará na revisão de uma série de políticas”, alertou.

Ele acredita que a PEC, nos moldes em que foi enviada ao Congresso, é uma tentativa de anunciar o pior dos mundos para depois negociar.

“De qualquer forma, essa medida vai afetar todas as políticas públicas de distribuição de renda, porque nascem do orçamento da União. E ao frear os gastos federais, acabam por limitar também o investimento em estados e municípios, que tem na União a maior parte do recurso para orçamento.”

Outro problema, avalia, será a gestão desse congelamento para lidar com demandas que vão desde a progressão na carreira dos servidores públicos até o aumento da demanda por políticas públicas com o aumento da natalidade.

Responsabilidade em dobro

Secretária-geral adjunta da CUT Nacional, Maria Faria aponta que os movimentos têm a responsabilidade de mostrar à sociedade o cenário devastador que se forma disfarçado de aprimoramento de gestão.

“Quando o governo golpista fala que não vai aumentar investimento, significa que vamos ter retrocesso no acesso a políticas públicas por parte da sociedade e dos trabalhadores que estão na base da pirâmide. O que fazemos é a defesa do estado brasileiro, do estado democrático”, falou.

Armengol também avalia que a atividade desta quarta-feira ganha ainda mais peso com avanços de proposta privatizantes nas eleições municipais.

“No momento em que eleições sinalizam tendência de crescimento da direita, o ato no dia 5 toma dimensão muito maior de resistência da classe trabalhadora para evitar essa tragédia. Nossa missão é buscar mostrar isso aos trabalhadores, que o momento político vivido por nós é fruto de um golpe que escancarou a ascensão de forças comprometidas com a agenda neoliberal ortodoxa”.