Relatório da Oxfam revela aumento da concentração de riqueza e desigualdade
Concentração de poder amplia especulação em setores estratégicos do Estado
Publicado: 22 Janeiro, 2025 - 14h12 | Última modificação: 22 Janeiro, 2025 - 14h49
Escrito por: Nathan Gomes
De acordo com o último relatório da Oxfam, os bilionários aumentaram sua riqueza em mais de US$ 2 trilhões em 2024, o que equivale a um crescimento de quase US$ 5,7 bilhões por dia. Esse salto impressionante intensifica as desigualdades e amplifica o controle dos super-ricos sobre setores estratégicos, drenando recursos que poderiam ser destinados ao financiamento de serviços públicos essenciais, como saúde, educação e infraestrutura.
No Brasil, setores públicos essenciais, como saúde, educação, saneamento e energia, enfrentam pressões crescentes de privatização. Com isso, aprofundam-se as desigualdades, comprometendo o acesso universal a direitos fundamentais e transferindo a gestão de bens públicos para a iniciativa privada. Esse cenário reflete uma disputa constante entre os interesses especulativos do capital, que buscam maximizar lucros, e a garantia dos direitos sociais, que deveria ser prioridade em políticas públicas.
O poder econômico e a natureza da sociedade capitalista
Os super-ricos acumulam riqueza e especulam ativamente sobre setores essenciais, como saúde e educação, enfraquecendo sistemas públicos e convertendo direitos sociais em oportunidades de lucro para investidores. No Brasil, isso é evidente na tentativa de privatização de diversos setores como
Além disso, os cortes orçamentários que afetam diretamente o SUS e a educação básica, enfraquecem a soberania estatal ao mesmo tempo que acontece a especulação do mercado.
Meio ambiente é um dos setores mais impactados e disputados
Bilionários frequentemente financiam projetos de mineração, agroindústria e extração de petróleo em áreas protegidas. A Amazônia, por exemplo, é explorada por grandes corporações que recebem incentivos fiscais, enquanto comunidades locais são impactadas pela destruição ambiental e perda de territórios.
É importante lembrar que a abertura ao capital nacional e estrangeiro para exploração de recursos naturais foi ampliada durante a Ditadura Militar de 1964. Um marco foi a Lei 5.025/1967, que flexibilizou o acesso de multinacionais a setores estratégicos. Entre 2010 e 2020, mais de 17% da Amazônia Legal foi desmatada, grande parte devido a projetos financiados por grandes investidores privados. Em 2023, foi revelado que empresas ligadas a bilionários compraram 2 milhões de hectares de terras na região para exploração de soja e carne bovina, contribuindo diretamente para o aumento do desmatamento e violações de direitos de comunidades locais.
Educação e saúde são alvos constantes
O SUS, um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo, enfrenta ameaças constantes de privatização por meio de especulações que visam transformar o sistema em uma fonte de lucro para investidores. Durante a pandemia, a relevância do SUS destacou a necessidade de fortalecimento do sistema e da valorização de seus profissionais, mas os avanços privatistas continuam a ameaçar seu funcionamento.
A educação pública também sofre com cortes de verbas e tentativas de substituição por sistemas privados, impulsionados por interesses especulativos que visam transformar a educação em mercadoria. Recentemente, em São Paulo, escolas foram transferidas para gestão de organizações sociais no Programa de Ensino Integral, gerando críticas por representar uma forma de privatização disfarçada. Situações similares no Chile e nos Estados Unidos mostram como a especulação privada pode aprofundar desigualdades educacionais.
Privatizações em números
De 1990 a 2020, mais de 800 empresas públicas foram privatizadas na América Latina, beneficiando grandes corporações, mas deixando a população sem melhorias significativas. No Brasil, entre 2019 e 2023, a venda de ativos públicos totalizou R$ 250 bilhões, com o setor de energia sendo um dos mais afetados, como na privatização da Eletrobras, que transferiu o controle da energia para investidores estrangeiros.
A desigualdade no financiamento público também é alarmante. Apenas 4% da população mundial paga a maior parte dos impostos, enquanto os super-ricos utilizam paraísos fiscais para evitar contribuições significativas. Dados da ONU citados pela Oxfam indicam que países de baixa e média renda gastam quase metade de seus orçamentos para pagar dívidas com credores ricos. Isso supera em muito o investimento combinado em educação e saúde. Entre 1970 e 2023, governos do Sul Global pagaram US$ 3,3 trilhões em juros para credores do Norte.
Soluções para proteger o bem comum
Organizações como a Oxfam defendem a implementação de impostos progressivos sobre grandes fortunas e heranças, além de regulamentações mais rígidas sobre a atuação de bilionários em setores públicos. Paralelamente, é essencial que a sociedade civil se mobilize para proteger serviços essenciais, garantindo que eles permaneçam acessíveis a todos. Políticas públicas que priorizem o bem comum são a chave para frear o impacto da concentração de riqueza e preservar os direitos da população.